quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Laos: Luang Prabang (dez 2011)

        Depois de dois lugares grandes e cosmopolitas - Londres e Bangcoc - demorei um pouco para aterrissar em Luang Prabang, capital do Laos até 1560. Com apenas 100 mil habitantes, hábitos interioranos e conjunto arquitetônico belíssimo, a cidade - cujo nome quer dizer "terra do Buda delicado" - tornou-se Patrimônio Cultural da Humanidade em 1995, mas só em 1999 se abriu para o turismo.

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        A arquitetura tem características próprias, como os telhados pontudos. O turismo, iniciado recentemente, traz dólares fundamentais ao país ainda pouco inserido na economia internacional, depois de quase cem anos de dominação francesa e dos traumas da guerra do Vietnã, com a qual sofreu bastante. Setenta por cento da população vivem do turismo; os 30% restantes são camponeses. Há duas indústrias na região: de água mineral e de suco de mandarina - uma espécie de mexerica miúda, doce e saborosa.


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       Há mais de trinta templos em Luang Prabang, alguns construídos no século XVI. São menos suntuosos e conservados do que os da vizinha Tailândia, mas têm a vantagem de estar em harmonia com o entorno, além de exibirem delicadezas como paredes com desenhos em alto relevo, representando passagens da vida de Buda. Veja abaixo e no detalhe:

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       A religiosidade do povo é intensa: a partir dos 11 anos, alguma vez na vida os homens vivem como monges por pelo menos três dias. Nessa cidade onde moram 100 mil pessoas há 1.300 monges, alguns ainda crianças; e cerca de 300 mil em todo o país, com sete milhões de habitantes. Os monges não têm função de, por exemplo, oficiar casamentos, mas ajudam nos funerais, na construção de casas, no cultivo de alimentos. Há também monjas, em geral viúvas ou "desiludidas no amor", como explica Olam, o guia. Na cidade são apenas nove, e menos de cem no país.
       Todas os dias, chova ou faça sol, antes das seis da manhã as pessoas sentam-se em frente ao muro de um mosteiro - por sorte, defronte ao nosso hotel - para encher de arroz já cozido os recipientes que os monges, em longa fila, trazem. Além de arroz, colocam biscoitos ou frutas. Vimos até dinheiro misturado à comida. Pegam o arroz com a mão, em punhados, e não recebem agradecimento, não tocam nem olham diretamente os monges. Crianças pobres acompanham o ritual, para pegar sobras. Turistas fotografam. Veja o vídeo abaixo:
 



       Luang Pragbang fica entre dois rios, um deles o Mekong, em evidência na época da guerra do Vietnã. Programa turístico obrigatório é um passeio pelo rio, com almoço num povoado e visita a uma gruta com estátuas milenares de Buda, mais de seis mil, de todos os tipos, tamanhos e materiais. Às vezes algumas são roubadas, explica o guia. Talvez por turistas ou por algum não-budista - apenas 25% da população.

 
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   Rio Mekong visto da gruta                                                                                                  Alguns dos seis mil Budas

       Aliás, a "Terra do Buda delicado" é pródiga em belezas naturais. Todos vão assistir ao pôr-do-sol do alto de uma colina, de onde se avista o Mekong.

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    Outra boa ideia é fazer pic-nic e se refrescar nas cataratas de Khuangxi.

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         Turistas se divertem na cachoeira:

            

        Na cidade, as indefectíveis casas de massagem típica, que frequentávamos diariamente. E o mercado noturno, armado ao anoitecer no fim da rua principal, onde se pode comprar finas echarpes de seda, panos e objetos para decoração, roupas, joias de prata e bijuterias de alpaca, trabalhadas à mão, com belos desenhos. Mesmo quem não é comprista fica tentado a levar muita coisa. E, mesmo assim, na volta para casa se arrepende de não ter comprado mais, tamanha a beleza, a originalidade e, principalmente, os ótimos preços.
       Fomos visitar o lugar de origem desses produtos: povoados nas cercanias da cidade, onde vimos pessoas trabalhando em teares manuais, fazendo papel para luminárias, pinturas, desenhos e embalagens. Conhecemos o processo de fabricação da seda: os bichos da seda, a extração do fio do casulo, o tingimento com pigmentos de madeiras e outros vegetais. Comprei por apenas US$31 (!) dois metros e meio de seda pura feita à mão e tingida com casca de tamarineira.


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         Moça fazendo papel de casca de árvore                                  Todo o processo de fabricação de seda e algodão é manual


                No último dia, visita a um mosteiro de monjas no alto de uma colina, de onde se tem bela vista da região.

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       Para terminar, curiosidades: o avião que nos levou de Bangcoc para o Laos era um bimotor mínimo. Na hora do embarque, o pessoal de terra da Lao Airlines, em fila, deu adeuzinho para o avião, e depois fez o sinal que usam para cumprimentar e se despedir: cabeça respeitosamente inclinada e mãos juntas na altura do peito, como para rezar. Nesses momentos eles dizem sabaidee, que significa algo como "boa sorte".
       Em algumas casas comerciais há bandeiras do país, ao lado da foice e do martelo.
    Indochina 211 bx     Pessoas cozinham nas calçadas, que funcionam como extensão das casas.            

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       Outro aspecto interessante é em relação ao hotel: havia uma banheira dentro do quarto! Não deu para entender, mas aí fica o registro. E, entre o quarto e o banheiro, há, inexplicavelmente, uma janela de vidro. Se não tivesse cortina, seria constrangedor. Talvez isso se deva à recente inserção do país nas rotas de turismo, e ao pouco conhecimento dos hábitos ocidentais.

 

 

* Os vídeos dessa postagem foram gravados por Jitman Vibranovski

Próxima parada: Vientiane, capital do Laos.

10 comentários:

  1. Claudia, estou amando esta viajem virtual com vocês. Nesta última, a Luang Prabang, minha mãe (91 anos) "veio" junto e amou as fotos e as curiosidades que fui lendo para ela.
    A próxima é....???
    Bjs,
    Doi(d)a para correr mundo.

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    Respostas
    1. Doinha, a próxima é Vientiane, capital do Laos. Depois de sua providencial pergunta, postei a informação no final da matéria. Beijo.

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  2. Ei Claudia,
    Que delicia de blog. Adorei conhecer Laos e Bangcoc através de sua lente e seu texto.
    Dá vontade de conhecer todos os lugares. E eu nunca tive muita vontade de conhecer Marte!
    Vcs estão lindos em cima do elefantes! Diga ao Jitman para vender o Gol e comprar um elefante.

    Estamos em El Calafate e amanhã faremos o mini trecking no Perito Moreno! Uma hora e meia de caminha em cima do glacial.
    Estamos na maior expectativa.
    Que sorte pegar o iPad , sentar na recepção e ler sobre o Laos e Bangcoc.

    Que sorte poder viajar.
    Beijos em vc e Jitman.
    Hasta vista!

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  3. Ler seu blog, é poder "viajar" atraves de ti. Fotos lindas. Voce até m encionou a sopa apimentada....
    Que bom que voces gostaram e puderam desfrutar desta maravilhosa oportunidade : VIAJAR !!!!!

    bjs tb para Jitman

    Soeli

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  4. Oi Claudia,
    Adorei mais este "capítulo"...
    Parabéns pelas fotos e o texto. E pela escolha do roteiro de viagem.
    Beijo
    Guiga

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  5. Ei Cláudia!
    Muito legais os seus relatos de viagem!!! E as fotos são maravilhosas!
    Parabéns, beijos!
    Angela

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  6. Não há como não repetir o que os amigos já disseram, mas muito obrigada pela oportunidade de conhecer, ainda que virtualmente, esses lugares surpreendentes. Suas fotos e relatos são excelentes - parabéns pela elegância, clareza e escolha da perspectiva de ambos, lente e linguagem. Beijos saudosos para os dois.

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  7. Que bom que vc gostou, Isa. Fiquei muito feliz com suas observações. Beijo grande.

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  8. Quem sabe, sabe. Parabéns, Cláudia, pelas reportagens. Tenho conhecido e revisto lugares sob sua lente e pena. O turismo, além de outras qualidades como a literatura, é seu maior pendão. Em sua tela, e parafraziando Clarice Lispector. cada viagem é um novo livro. Siamo a bordo con te! Abração, Arthur Vianna

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  9. Obrigada, Arthur! Continue a bordo! Abraço, Cláudia

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